Por Eduardo Felipe Matias
O desenvolvimento de um ambiente
de negócios inovador depende tanto da remoção de barreiras à livre iniciativa
quanto da adoção de políticas públicas. A eliminação de obstáculos ao
empreendedorismo e a criação de programas voltados a estimular a inovação poderiam
contribuir para o fortalecimento do ecossistema das startups no Brasil.
Com base nessa premissa e na
ideia de que vale a pena conhecer os caminhos trilhados por outros países para
atingir tal objetivo, foi realizado o estudo “Sharing Good
Practices on Innovation” (mais detalhes neste link),
que tive a oportunidade de conduzir ao lado do especialista europeu Leonardo
Piccinetti, em iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações
brasileiro e da União Europeia (UE), dentro do programa Diálogos Setoriais UE –
Brasil.
Nele, foram identificadas
políticas europeias de incentivo ao empreendedorismo e à inovação com potencial
de, se aqui adotadas, fomentar nossas startups, algo mais do que nunca
oportuno, neste momento em que estamos discutindo o chamado Marco Legal de
Startups e Empreendedorismo Inovador do Brasil.
O ecossistema brasileiro
apresenta, hoje, alto grau de complexidade. Além do número elevado de startups
– estas já somam mais de 13 mil, sendo ao menos uma dúzia delas “unicórnios”,
apelido dado às que superaram o valor de mercado de US$ 1 bilhão –, assiste-se
a uma proliferação de outros atores do setor, como incubadoras,
aceleradoras, corporate ventures, espaços de coworking,
investidores-anjo e fundos de private equity e de venture capital.
Para apoiar seus projetos,
aqueles que decidem empreender e inovar contam com diversas entidades, públicas
e privadas – como Finep, BNDES, Anprotec, Embrapii, CNPq e Fapesp – e inúmeros
programas de aceleração e financiamento. Aqueles que querem investir em
startups, por sua vez, dispõem de diferentes mecanismos, alguns deles
regulamentados há relativamente pouco tempo, como o equity crowdfunding e
os contratos de participação para investidores-anjo.
Embora evoluído, nosso
ecossistema se beneficiaria bastante de algumas medidas implementadas pelos
países que foram objeto do estudo. Algumas delas se destinam a combater as
dificuldades enfrentadas pelos empreendedores no dia a dia, por meio da
diminuição da burocracia, da eliminação de tributos, do aperfeiçoamento das
normas trabalhistas, da aceleração do registro de patentes e da simplificação
de regras para participação em concorrências públicas – o que contribuiria para
que os produtos e serviços das startups ganhassem escala e, com isso,
competitividade. Também nessa linha, outras medidas procuram tornar mais
simples tanto a criação quanto o encerramento de uma empresa – algo que, no
Brasil, sabidamente pode ser uma dor de cabeça para o empreendedor.
Além disso, o estudo dá exemplos
de políticas – muitas delas no âmbito da União Europeia – dedicadas a promover
a inovação de forma mais direta. Neste aspecto, ainda que, como se viu, exista
no Brasil um bom número de entidades e programas focados em startups,
constata-se que poderia haver melhor coordenação entre estes, e que suas ações
poderiam ser mais bem divulgadas. Coordenar as medidas adotadas, eliminando
eventuais redundâncias, bem como monitorar resultados, abandonando iniciativas
fracassadas, é algo essencial para que se possa alocar melhor os recursos
públicos.
As startups podem ser grandes geradoras
de empregos e riquezas, e o crescimento dessas empresas colaboraria
significativamente para a retomada da nossa economia em tempos de crise. O
estudo “Sharing Good Practices on Innovation” procura tirar lições de outras
experiências bem sucedidas que nos ajudem a atingir esse objetivo.
Eduardo Felipe Matias é sócio de NELM Advogados, Doutor em Direito Internacional pela USP, autor dos livros A Humanidade e suas Fronteiras e A Humanidade contra as Cordas, ganhadores do Prêmio Jabuti, coautor do estudo “Sharing Good Practices on Innovation: Understanding Selected European Ecosystems to Foster Innovative Entrepreneurship in Brazil”
Publicado originalmente no Portal
Exame. Para acessar o original, acesse o link.
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